sábado, 11 de outubro de 2008

NCSS (ou, não cansei de ser sexy)


A gente era apaixonado um pelo outro. Sabe quando você pensa a vida com uma pessoa? Então. Que merda. Eu pensei a vida com aquele canalha. Eu era tão fofa. Não sei se por vocação ou medo, mas lá estava eu dizendo - sim senhor, com certeza, você tem razão, não, deixa pra lá, etc. Ou mesmo, o clássico – ah, tudo bem!
Então, veja só, descobri numa festa que meu marido, esse mesmo que eu era casada há sete anos, estava comendo a minha analista. Pensa bem, no ódio que brotou no meu estômago, fechando minha garganta e cravando um punhal na minha nuca. Eu pude ver os dois entrando no banheiro, um depois do outro, sorrateiramente. Por alguns segundos esqueci dia, mês e ano, que horas são - eu perguntei. Me segurei na Lídia, coitada, que tava do meu lado, porque quase desmaiei. Respirei fundo e pensei, não, eu não pensei, eu fui. Em segundos eu já estava no carro, quase levando um poste. Como é que a fofa que eu era, ia lidar com uma situação dessas? Fui embora sem avisar e dormi fora de casa. Dia seguinte. Sabia que ele teria uma reunião com um cliente inglês para fechar um negócio de milhões. Passei em casa, tomei banho, perfume, creme, lingerie, escarpin, vestido lindo, valise do papai e – Táxi!
Chegando no seu escritório entrei na sala e tranquei a porta. Não sei se o susto maior foi do inglês que não sabia quem eu era, ou dele, que a essa altura, também não sabia. Tirei o 38 da valise, mandei os dois sentarem um de frente pro outro, amordacei e amarrei pés e mãos dos dois. O inglês não acreditava, mas eu, acreditando, gritava - You too, motherfucker! Liguei o mp3 do meu celular e diante dos olhos saltados com veias vermelhas do meu marido, fui tirando, casaco, vestido, cinta, soutien, calcinha, até ficar completamente nua. O inglês num misto de tesão e medo, meu marido num misto de muito medo e muito ódio e eu rindo, rindo, dançando e rindo.
Feito isto, me levantei, me vesti e deixei os dois lá sentados. Se encarando, um de frente pro outro. Confidenciados. Sem palavras.


Enviado gentilmente por:

Julieta Calor

Um comentário:

Luciana Pessanha disse...

Muito bem! Assim é que se faz, querida.

E vamos combinar que o seu montador é tu-do! Pegar a analista é coisa de gênio!

Aliás, gostaria de estudar um pouco a participação da analista no caso. Pense bem: ao mesmo tempo em que ela é um detonador poderoso, é também montadora - porque uma analista que pega marido de paciente, veja bem.
O que inaugura um novo filão nos nossos estudos: a dupla montagem .
Muito interessante!
E seguindo essa linha de pensamento, já que você foi vítima de dois montadores, porque não pensa numa explosão no consultório da analista, também?
Ou talvez num congresso de psicanálise, hein? Não seria interessante?