terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Pearl Harbor versão verão 2009 - Finalmente uma história gay!


Determinado a escapar do stress que anda rolando atualmente, me muni de uma malinha de mão e um cartão de embarque com destino ao clima inverso e ao fuso horário mais distante possível. Nem que seja por 48 horas. E foi assim, que numa praia em Honolulu, circundado de uma pilha de revistas, jornais e livros, pleno quarentão assumido, recebo a visita de meu mais precoce -e insuspeitabílissimo - homme fatal.

Forçando total indiferença, reparo que, na chaise longue ao lado da minha, se instala um verdadeiro Deuzinho Grego de vinte e poucos anos, encarnação perfeita de personagem do catálogo de Abercrombie & Fitch. Procurei em vão associar esta beldade a um acompanhante digno, e encerrar qualquer sombra de especulação. Que nada. Ele estava sozinho. E para me inquietar ainda mais, noto que ele está escaneando com os olhos todas as minhas publicações, com o interesse de quem quer puxar conversa. Reli inutilmente o mesmo parágrafo 4 vezes me esmerando tanto em transmitir um ar focado na leitura, como em encolher – e muito - a barriga.

Diante da minha zero propensão de falar com estranhos, foi com surpresa e com um leve zumbido no ouvido que me dou conta de ter iniciado, eu, a conversa. Andrew, 24 anos, afável , articulado e claro, tímido, faz um breve resumo de sua pessoa enquanto desajeitadamente aplica filtro solar Banana Boat, odor cliclete, nada debonnaire e perfeitamente desarmante. Canadense, me informa que está viajando com a avó Finlandesa, em estágio inicial de Alzheimer, e que escolheu o Havaí como um destino ideal para compartilharem memórias de viagens passadas, ainda ao alcance dela.

2 horas de conversa fluíram como se fossem 5 minutos, somente interrompidos pelo fato que sua avó o aguardava no saguão para jantarem juntos as 5:30h da tarde.

- Se você puder, vamos tomar um drink juntos hoje à noite?”- me pergunta antes de partir. Eu, que planejava um jantar sozinho na bar do Nobu, abdiquei do jantar e dos meus planos de um restaurativo final de semana perfeitamente a sós, pela intrigante e inesperada companhia desta pessoa alarmantemente irresistível.

Após o quarto gin tônica, sob um céu despudoradamente estrelado, ao som de hula e ondas do mar, a conversa - que cobriu temas como seu precário namoro com um certo Phil, sua crença em fazer a côrte, seu inveterado romantismo e o curioso relato de ter me notado entrando no hotel para o check-in e se perguntado quem eu era - começa também a incorporar silêncios acompanhados de olhares de peixe-morto apontados na direção da minha boca, mãos, lóbulo da orelha… Da minha cartucheira emocional, a esta altura, eu sacava a mesma munição de olhares e silêncios, mas curiosamente não a intenção de transar com ele. Isso simplificaria tudo, e quem quer as coisas simples? Comecei a imaginar todo um romance e a praticar nele todas as virtudes de bom rapaz, homme fatal embrionário que, um dia, foi também o meu lema e especialidade.
Trocamos PINs de nossos respectivos blackberries. Uma cerimônia de peso. O equivalente tecnológico entre um noivado de interior e a troca de sangue em ritual cigano. A partir de agora havia entre nós este laço de acesso quase total: o blackberry messenger. Diante tal ousadia, nos demos boa noite sem sequer um aperto de mão.

Os próximos 2 dias prometiam ser interessantes.

Bomba ou detonador? Homme fatal ou homen fatalizado? Estes papéis ainda não me pareciam designados, enquanto eu, na manhã seguinte, na varanda do hotel, tomava café, seguindo sob óculos escuros, à distância, o objeto de minhas atenções caminhando pacientemente com sua avó, em direção ao mar. Reservando uma chaise longue vazia ao lado da minha, aguardei com disfarçada impaciência a hora da sesta daquela que se tornava agora minha rival: uma adorável velhinha de 85 anos.

Finalmente, reunidos ao sol, nossa relação, agora mais aprofundada, tocou níveis abissais, quando Andrew pediu para trocarmos Ipod para o resto da tarde, lado-a-lado na chaise long. Isso me deixou ligeiramente preocupado. Como ele assimilaria Zé Keti ,Mono in VCF, Françoise Hardy e todas as outras esquizitices contraditórias contidas no que, até agora, era a minha caixa preta?

Um certo senso de pânico se instalou quando me dei conta que não reconhecia um só título entre as músicas do seu Ipod. Aí, vendo Prince, e, como um náufrago atracando-se ao que flutua, apertei play . Toca “I wanna be your lover”. Bom augúrio, pensei.

Fica decidido que aquela noite Andrew jantará 2 vezes: as 5:30h com a avó e às 9:00h comigo. A caminho do restaurante Nobu, andando na rua, juntos pela primeira vez, noto através do espelho das vitrines, um par entretido, desengoçadamente se esbarrando ao tentar antecipar eu os passos dele, e ele os meus, inutilmente procurando estabelecer a distância ideal de um para o outro. Foi nesse momento que o alarme número 1 soou na minha cabeça.

O alarme número 2 tocou no meio do jantar, quando me surpreendi abandonando minha etiqueta habitual em troca da espontaneidade de comer um do prato do outro, sob o olhar cumplice dele.

Na volta, sugiro um atalho através do Royal Hawaiian, uma espécie de hotel Quitandinha, colosso dos anos 20, que está em obras e perfeitamente vazio, embora aberto. Atravessamos halls, salões e corredores infinitos. Um set surreal, que somado a 5 sakes sugere que algo inesquecível está para acontecer. O terceiro alarme é desnorteante. Preparando-nos para voltar pela praia, Andrew remove seus tênis Bottega Veneta de camurça preta. Sem meias, seus dedos dos pés haviam se tornado completamente pretos pela camurça. Ao notar este detalhe ele imediatamente encolhe os dedos, escondendo-os, num gesto de embaraço e vulnerabilidade que humanizam sua beleza e o tornam, agora, impossivelmente irresistível.

Não sei como, mas chegamos ao nosso hotel sem trocar uma palavra. Uma vez no lobby e através de uma série de gaguejos, ensaiamos uma despedida pontilhada de planos perfeitamente vagos e incoerentes para o dia seguinte. Acometido do já familiar zumbido no ouvido, me ouço dizendo:

- Tive uma noite maravilhosa, e não sei como termina-la sem fazer uma proposta perfeitamente inapropriada para você.

Meu homme fatal tem a resposta pronta.

- Estou lisonjeado, mas temo que nunca mais nos veríamos de novo.

- Bem , pelo menos falei o que sentia – respondi. Me desculpei, acho que também balbuciei algo sobre “ter me deixado levar”, culpei o fato estar “cativado pelas circunstâncias” e bati em retirada sem insistir, e com toda a dignidade que pude simular.

Ele havia manobrado uma vitória estrelar.

O elevador subia enquanto eu naufragava, sozinho e incrédulo. Perdedor assumido disparei o último morteiro de resgate na forma de um instant message

- Espero não ter lhe ofendido.

O precoce homme fatal, foi perfeito na resposta.

- Imagine. Eu vejo muito mais para nós.

Como Merlin que sucombe aos charmes de sua presa Vivien, eu contemplava já minha prisão na torre de ar, sob um encanto cujo antídoto o próprio feiticeiro desconhece. Pensei em Antoine Doinel, meu heróico personagem de Truffaut e líder dos hommes fatals. O que ele faria em meu lugar?

No dia seguinte, na varanda, tomo meu café da manhã, não sem antes reservar uma chaise longue a sós, em território novo. De longe observo Andrew e a avó no ritual passeio matinal. Contrário à sua rotina, vejo com certa surpresa que ele instala a avó na sombra do salão com um livro, lhe serve um chá, e parte para preparar 2 chaises longues ao sol. Lado-a-lado .

Naturalmente aceito o seu convite mesmo sabendo que sua única intenção é agora dissecar e indexar os resultados da sua sedução, antes da nossa partida naquela noite. E foi aí que pensei: o que seriam dos 20 anos que nos separam se não tivessem feito de mim um “perfect gentleman”? Assim dispensei maiores maquinações e decidi aproveitar a companhia com a sinceridade que só os românticos sabem transmitir.

Mais tarde, nossa despedida desajeitada no lobby do hotel demonstrou-se inútil, provando que as conspirações cósmicas existem: devido a atrasos de voo nossas partidas e portões sincronizaram-se. Assim, ainda pude exercitar minhas qualidades cavalhereiscas ao ajuda-lo a selecionar um presente para o namorado Phil.

De volta à realidade, me surpreendi quando a primeira mensagem via blackberry chegou. Na terceira mensagem começo já a responder com o lapso que rapidamente gera o recebimento de uma quarta.

Foi então que comecei a olhar a perolazinha acesa do blackberry com o fascínio de quem finalmente achou o botão detonador…


Bibliografia:

http://articles.latimes.com/2008/jun/17/science/sci-gaybrain17

http://www.observer.com/2008/o2/beware-l-homme-fatale?page=0%2C1

(desculpe, mas essa prcaria não quis colar o link)

Gentilmente cedido por:

A.- The chiquiest guy in Hawai

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Bomba espontânea


Contrariando a teoria de que para que exista uma mulher-bomba é fundamental que haja um montador, esta moça independente se montou sozinha e saiu explodindo por aí.



Fiquei esperando que ele saísse do prédio. Eu estava lá, escondida atrás da árvore, desde às 7 horas da manhã. Ele saía às 8. Já eram 8:15 e nada. Será que justo no dia em que em eu decidira tomar uma atitude, o Fofo não iria trabalhar? Não, não e não. Era uma injustiça muito grande. E eu odeio injustiças. Principalmente aquelas que acontecem comigo. Comecei a me impacientar. Reparei que as pessoas passavam por mim e me olhavam. Tão olhando o quê? Será que é tão estranho assim uma mulher de 25 anos, maquiada e com o cabelo perfeito, sem um amassadinho na roupa, estar atrás de uma árvore esperando o seu amor sair? Hein? Me deixem em paz. Programei isto meticulosamente. Não seria os olhares esquisitos dos outros que iriam me afastar do meu objetivo principal. Me agarrei na bolsa com mais força ainda, mais resolvida do que nunca a enfrentar as dificuldades em prol do Fofo. Era assim que eu sempre o chamei, desde a primeira vez que o vi. Fofo. Não sei o nome dele, idade e coisas assim. Mas o segui diversas vezes até descobrir onde ele morava e numa destas perseguições, descobri também que ele era cobrador de ônibus numa empresa não muito longe dali. Ele sempre ia a pé para o trabalho. Cheguei a andar no ônibus dele, passei e repassei diversas vezes na roleta e nada. Nada! Ele nem me notou. Seria que é por causa do meu cabelo castanho sem graça? Por via das dúvidas, pintei de loiro. Sei lá, dizem que é das loiras que eles gostam mais. Eu, pessoalmente, não vi grande melhora na minha estampa. 

Distraída com meus pensamentos, senti um cutucão no braço. Levei um susto. Por milésimos de segundo, achei que fosse o Fofo. Mas era o zelador do prédio. O velho me olhou com uma cara estranha. Mais um.


— Perdida, moça?


— Perdida, por quê? — devolvi a pergunta.


— Esperando alguém?


— Por que?


— O vocabulário da senhora é muito pequeno.


— E o senhor é muito metido. 


— Quer um banquinho para sentar?


— Gosto de ficar em pé.


— Ficar muito tempo na mesma posição piora as varizes. E a senhora está em pé, atrás da árvore, há um tempão.


— Não tenho varizes, meu senhor — respondi, transpirando de nervosa. Êta véio que iria atrapalhar meus planos — E suponho que esteja me vigiando, não?


— Nada mais justo para quem está vigiando alguém do prédio de onde sou zelador.


— Negativo, meu senhor.


— Positivo, minha senhora. E aconselho que a senhora retire-se antes que eu chame o síndico. E o síndico, com certeza, irá chamar a polícia.


— É crime ficar atrás de uma árvore?


— Crime não é, mas a polícia pode resolver lhe interrogar por atitudes suspeitas.


— Sou uma mulher-bomba. Dentro da minha bolsa tem uma bomba que vai explodir em cinco segundos. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. BUUM! Explodiu.

O zelador me olhou com uma cara que dizia abertamente: “É louca”. E eu, na verdade, já começava a considerar que a idéia de ter ido esperar o Fofo sair, tinha sido uma roubada. Vai que eles mandassem a polícia atrás de mim? O que eu iria dizer para minha mãe? Depois do BUUM! e do olhar penalizado do velho, achei melhor bater em retirada. Andei de ré, com os olhos grudados nele e ele em mim. Notei um celular na mão direita dele. A qualquer momento ele poderia discar para o 190. E eu teria que correr, com meus saltos altos, adeus elegância. Talvez até saísse no jornal. Definitivamente, minha mãe morreria. Logo ela que pensava que eu fosse normal.

Parei do outro lado da rua, pronta para correr caso o zelador começasse a discar do celular. Nossos olhos estavam cravados um no outro, fixos. Ele não se mexia, nem eu. O velho só foi se mexer novamente para cumprimentar o Fofo, que passou por ele de mãos dadas com uma morena linda. Os dois passaram por mim e nem notaram minha existência. Meus cabelos loiros, oxigenados. Do penteado impecável. Do meu terninho novo. Senti-me a últimas das mulheres. A impressão que eu tinha era que nenhum homem sentia qualquer tipo de interesse por mim, ninguém me queria, ninguém me olhava. Só o zelador. Ele continuava lá, firme, os olhos fixos em mim. Quis dizer a ele que eu realmente era uma mulher-bomba. Uma bomba de emoções, desejos, prazeres e amores — platônicos ou não — todos mal resolvidos. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. BUUM!. Explodi.

Este depoimento foi roubado da internet de uma moça chamada Patrícia Fonseca