sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Lançamento do livro!


Terça feira, dia 2 de dezembro, tem lançamento da Mulher-Bomba no Gula Gula de Ipanema!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Bomba Genética


A minha vida de mulher-bomba começou cedo. Começou na verdade vendo minha mãe explodir - no caso, com meu pai - diversas vezes. Coisas apoteóticas que me deixavam apavorada quando criança, mas que hoje em dia me parecem perfeitamente compreensíveis. Segundo dados da biografia familiar, minha avó quebrou um violão na cabeça do meu avô… Sou uma mulher-bomba feita de material explosivo genético, um tipinho difícil. Minha capacidade explosiva começou cedo, aos 10 anos, quando peguei o meu namoradinho beijando a vizinha numa festa na casa dele, na frente de todos os amigos. Não tive dúvidas, joguei a garota de lado e frente a frente com o namorado meti-lhe a mão na cara diante dos amigos. Acabei com a festa, virei as costas e fui pra casa. Daí pra frente tive poucos namorados e os poucos que tive foram um bocado perturbados pela mulher-bomba “Senior”, minha mãe.
Aos dezessete conheci um garoto bonitão, louro do olho verde, um tipo testosterônico, cheio de beleza e drogas divertidas no bolso. Já havia um tempo que eu andava de saco cheio daquele lance de virgindade. Eu estava a fim de atravessar o portal e aquele louro me caia muitissímo bem, mas ele tinha 25 anos e queria namorar mulheres maduras. Eu, sem pensar duas vezes, disse a ele que tinha 18 anos, era a garota mais descolada do mundo e não mencionei a tal da virgindade, porque achei meio “ridículo”. Depois de um mês de namoro ele me levou para um sítio com vários amigos, me deu um ácido e me comeu sem saber que eu era virgem. Obviamente que, doidão, nem percebeu nada e eu me dei conta da idiotice que eu tinha feito. Minha mãe descobriu que eu estava num sítio - na história oficial eu tinha ido dormir na casa de uma amiga - com oito homens e uma outra garota fumando maconha. Mal sabia ela do lance do ácido… A partir daí foi um barata voa, a mulher-bomba Senior ligou para a mãe do rapaz e falou que eu era menor de idade, que o filho dela tinha me comido e coisa e tal, e que ela ia na polícia! A mãe do cara passou mal e ele ficou tão puto que depois me seguiu até que eu mostrasse minha carteira de identidade… Nessa altura ele começou até a achar que eu tinha outro nome!
Meu pai foi acionado: Você sabe o que sua filha fez? Prontamente pegou um avião do Rio pra São Paulo, onde eu morava com minha mãe, e foi tentar administrar os estragos da explosão. Nessa altura da vida meu pai era um especialista nisso, quase um agente da CIA, se reuniu com os pais e o namorado e explicou que minha mãe era uma mulher-bomba, que já tinha feito loucuras com ele, contou várias das histórias, sensibilizou os caras e fez eles entenderem que aquilo era fichinha. Me tirou da casa da minha mãe e me trouxe para viver com ele no Rio – é mais seguro!
No aeroporto antes de embarcarmos pediu uma cerveja e brindou a tal da virgindade perdida. Ainda fez uma piada dizendo que minha mãe estava sendo mal utilizada, que ela poderia ajudar muito o pessoal do Talibã e que esperava que eu não fosse como ela… Tadinho! Ele tentou mas a natureza é mais forte. Explodi várias vezes e, de vez em quando, ainda chego bem perto disso, mas por sorte - ou pelas preces do meu pai -, encontrei alguém incapaz de apertar os botões de acionamento.
Meu nome é Luciana tenho 35 anos e não explodo há 6 meses.

domingo, 9 de novembro de 2008

O homem pela metade

Ele nunca dizia tudo, apenas a metade. Interrompia as frases com uma expressão distante e os olhos fixos em qualquer coisa: a TV, um cachorro,uma mosca. O que eu sabia dele era uma série de frases incompletas do tipo “morei lá uns...” , “saí, sim, acho, mas ela...”, “foi quase nada”. Eu fazia sempre uma cara boquiaberta, mas ele me dizia com um ar compreensivo:“você é tão ...” Nem o próprio nome ele me disse inteiro. Isso tudo foi me
tirando do centro. Já não pensava em trabalho, amigos, família; só nele.
Mesmo não sabendo que aquilo era um quebra-cabeça, eu comportava como estivesse num campeonato internacional do gênero. Catava tudo que ele deixava cair: chiclete, palavrão, cheiro estranho, fiapo no dente. Nada me passava despercebido. Essa era a minha luta para me adaptar àquela segura - mas infelizmente fragmentária –, complexa – mas infelizmente inacessível - e fascinante mente masculina. “Você é tão lenta” era isso que eu supunha que ele não completava. “Você é tão ansiosa” – isso eu já sabia - aprendi isso com meus os outros namorados. Tinha que compensar minha lentidão, minha ansiedade. Que outra coisa podia oferecer senão meu carinho, meu afeto e minha presença física e espiritual abundante? Era uma mensagenzinha carinhosa, um bilhetinho perfumado no bolso, um telefonemazinho. Tudo bem
pequenininho para não assustar o príncipe.

Mas, infelizmente, mesmo assim, quanto mais eu me entregava mais ele ia se ausentando. Foi ficando cada vez mais distante. As migalhas que deixava cair não formavam mais nem uma sílaba. Eu entrei em pânico. Mandei flores, fiz um jantar surpresa com vinhos caríssimos, tentei uma posição erótica acrobática que me rendeu uma hérnia e ele, nada. Eu que já fazia terapia,ioga e spinning, resolvi buscar ajuda na ciência. Procurei uma taróloga.
Ela, seca, sorriu quando olhou para as cartas: você está uma pilha de nervos. Não sei se foi por causa do barulho agudo das minhas unhas tilintando na mesa ou se ela tinha lido mesmo nas cartas. O que eu faço? – gritei. Ela, ríspida: minha filha você não está mais entre nós.

Corri para casa, tentei ligar para alguém, mas me lembrei que havia abandonado os amigos. Abri a janela – e foi o suficiente. O meu adorado reticente estava enlaçado na minha vizinha de prédio. Quando ele viu que eu estava mais uma vez boquiaberta olhando para a cena. Ele fechou parcialmente a janela. Parcialmente, ouviram? Aquilo de tudo pela metade acabava comigo. Pela fresta, eu tentei xingar a vizinha, a mãe dele, quem fosse, mas era impossível competir com Mariah Carey.
Desci descabelada, descalça, de robe, e tentei invadir a portaria do prédio da pilantra. Seu Antônio, o porteiro, que me conhecia, foi de uma gentileza dessas que podem matar uma moça educada: segurou-me firme pelos pulsos e gritou: Dona Valdívia, o homem é casado. Casou ontem. Não faz barraco que a senhora é a outra.
Seu Antônio já tinha parado de me sacudir. Mas eu continuava me sacudindo toda e fui assim me sacudindo pela rua afora sem saber como encontrar minha querida portaria. Minhas vizinhas bondosas na janela gritavam: cuidado com o bueiro, Valdívia, cuidado com o bueiro. Aí, eu não agüentei, sentei no meio-fio e implodi.

Gentilmente enviado por:

Valdívia