sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Bomba espontânea
Contrariando a teoria de que para que exista uma mulher-bomba é fundamental que haja um montador, esta moça independente se montou sozinha e saiu explodindo por aí.
Fiquei esperando que ele saísse do prédio. Eu estava lá, escondida atrás da árvore, desde às 7 horas da manhã. Ele saía às 8. Já eram 8:15 e nada. Será que justo no dia em que em eu decidira tomar uma atitude, o Fofo não iria trabalhar? Não, não e não. Era uma injustiça muito grande. E eu odeio injustiças. Principalmente aquelas que acontecem comigo. Comecei a me impacientar. Reparei que as pessoas passavam por mim e me olhavam. Tão olhando o quê? Será que é tão estranho assim uma mulher de 25 anos, maquiada e com o cabelo perfeito, sem um amassadinho na roupa, estar atrás de uma árvore esperando o seu amor sair? Hein? Me deixem em paz. Programei isto meticulosamente. Não seria os olhares esquisitos dos outros que iriam me afastar do meu objetivo principal. Me agarrei na bolsa com mais força ainda, mais resolvida do que nunca a enfrentar as dificuldades em prol do Fofo. Era assim que eu sempre o chamei, desde a primeira vez que o vi. Fofo. Não sei o nome dele, idade e coisas assim. Mas o segui diversas vezes até descobrir onde ele morava e numa destas perseguições, descobri também que ele era cobrador de ônibus numa empresa não muito longe dali. Ele sempre ia a pé para o trabalho. Cheguei a andar no ônibus dele, passei e repassei diversas vezes na roleta e nada. Nada! Ele nem me notou. Seria que é por causa do meu cabelo castanho sem graça? Por via das dúvidas, pintei de loiro. Sei lá, dizem que é das loiras que eles gostam mais. Eu, pessoalmente, não vi grande melhora na minha estampa. Distraída com meus pensamentos, senti um cutucão no braço. Levei um susto. Por milésimos de segundo, achei que fosse o Fofo. Mas era o zelador do prédio. O velho me olhou com uma cara estranha. Mais um.
— Perdida, moça?
— Perdida, por quê? — devolvi a pergunta.
— Esperando alguém?
— Por que?
— O vocabulário da senhora é muito pequeno.
— E o senhor é muito metido.
— Quer um banquinho para sentar?
— Gosto de ficar em pé.
— Ficar muito tempo na mesma posição piora as varizes. E a senhora está em pé, atrás da árvore, há um tempão.
— Não tenho varizes, meu senhor — respondi, transpirando de nervosa. Êta véio que iria atrapalhar meus planos — E suponho que esteja me vigiando, não?
— Nada mais justo para quem está vigiando alguém do prédio de onde sou zelador.
— Negativo, meu senhor.
— Positivo, minha senhora. E aconselho que a senhora retire-se antes que eu chame o síndico. E o síndico, com certeza, irá chamar a polícia.
— É crime ficar atrás de uma árvore?
— Crime não é, mas a polícia pode resolver lhe interrogar por atitudes suspeitas.
— Sou uma mulher-bomba. Dentro da minha bolsa tem uma bomba que vai explodir em cinco segundos. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. BUUM! Explodiu. O zelador me olhou com uma cara que dizia abertamente: “É louca”. E eu, na verdade, já começava a considerar que a idéia de ter ido esperar o Fofo sair, tinha sido uma roubada. Vai que eles mandassem a polícia atrás de mim? O que eu iria dizer para minha mãe? Depois do BUUM! e do olhar penalizado do velho, achei melhor bater em retirada. Andei de ré, com os olhos grudados nele e ele em mim. Notei um celular na mão direita dele. A qualquer momento ele poderia discar para o 190. E eu teria que correr, com meus saltos altos, adeus elegância. Talvez até saísse no jornal. Definitivamente, minha mãe morreria. Logo ela que pensava que eu fosse normal. Parei do outro lado da rua, pronta para correr caso o zelador começasse a discar do celular. Nossos olhos estavam cravados um no outro, fixos. Ele não se mexia, nem eu. O velho só foi se mexer novamente para cumprimentar o Fofo, que passou por ele de mãos dadas com uma morena linda. Os dois passaram por mim e nem notaram minha existência. Meus cabelos loiros, oxigenados. Do penteado impecável. Do meu terninho novo. Senti-me a últimas das mulheres. A impressão que eu tinha era que nenhum homem sentia qualquer tipo de interesse por mim, ninguém me queria, ninguém me olhava. Só o zelador. Ele continuava lá, firme, os olhos fixos em mim. Quis dizer a ele que eu realmente era uma mulher-bomba. Uma bomba de emoções, desejos, prazeres e amores — platônicos ou não — todos mal resolvidos. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. BUUM!. Explodi.
Este depoimento foi roubado da internet de uma moça chamada Patrícia Fonseca
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6 comentários:
Vim ver seu blog, pois soube do seu livro, acabei comentando no outro.
Lu, dá uma olhada no meu blog que eu falei do seu livro (muito legal, aliás, parabéns!).
http://blog.estadao.com.br/blog/palavra/
Beijos, Felipe
Pelo que eu li nesta página, seu livro deve ser maravilhoso!
vou procurar.
Parabéns!
Como tantas, sou filha de mulher-bomba e, graças a ela, aprendi a desconectar o fio vermelho.
Mas, nunca se sabe...
abraço e boa sorte.
Cheguei ao teu blog através do blog do Felipe no estadão, menina confesso que adorei esse depoimento da Patricia, mas suponho que não tenha coragem suficiente para ser uma mulher bomba, confesso que sofro sozinha sobre os amores e desamores da vida.
Caros, andei fora do ar esse mês quase todo.
Obrigada pelos comentários.
Só não achei o do Cineasta 81.Vou procurar.
Felipe, saudades!
Oi, Luciana. Sou amiga de uma mulher-bomba, mas, infelizmente, não posso dizer isso a ela, pois ela pode acabar explodindo em cima de mim, que só quero alertá-la do perigo que está (estamos) correndo. O que fazer numa situação assim? Qual conselho você me daria?
Aproveita e dá uma passadinha no meu blog: http://esoumapassagem.blogspot.com. Beijos Malu Magalhães
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